Cena de “O Talentoso Ripley”: Tu vo’ fa’ l’americano

É muito raro que um filme consiga ser melhor do que o livro que ele adaptou – essa é uma frase que se ouve muito por aqui.

O filme “O Talentoso Ripley”, (direção de Anthony Minghella, 1999) foge um pouco desta regra.

É um filme muito bom – com ritmo, excelentes interpretações e fiel ao espírito original da obra. Mas com um grande porém.

Enquanto a maioria dos filmes baseados em livros procuram manter o roteiro original do livro, acrescentando ou suprimindo cenas e personagens apenas quando isso é estritamente necessário para adequar a história à linguagem do cinema, o filme de Mighella vai muito além da simples adaptação: ele dá um final diferente ao da história original.

E não estou falando de uma diferença pequena; é um final diametralmente oposto – como se o diretor (vencedor do Oscar de 1996 por O Paciente Inglês e indicado ao mesmo prêmio por O Talentoso Ripley) tivesse ficado inconformado com o destino que a autora Patricia Highsmith deu a Tom Ripley originalmente e tenha preferido dar seu próprio desfecho.

Pra quem tinha acabado de ler o livro, como eu, isso pode ser um pouco chocante…

Mas, mesmo assim, não vou deixar de recomendar este filme. De maneira nenhuma, é realmente muito bom – com destaque para a atuação de Seymour Hoffman, no papel do bon vivant Freddie Miles.

Hoffman: rival de Ripley (Matt Damon) como melhor amigo de Dickie Greenleaf (Jude Law)

Só deixo bem claro que o livro é beeem melhor. Pelo menos na minha opinião.

Para encerrar este post, uma curiosidade. Se você sempre quis saber qual é a origem do hit Pa-Panamericano, que fez muito sucesso algum tempo atrás, aqui está a resposta: essa música é um remix de “Tu vo’ fa’ l’americano” (Você se Faz de Americano), sucesso dos anos 1950 na Itália e que Ripley e Dickie cantam neste vídeo:

Até a próxima!

O Talentoso Ripley: sinopse

Título original: The Talented Mr Ripley
Autora: Patricia Highsmith
Ano de publicação: 1955
 

“Tom Ripley é uma das grandes criações da literatura pulp do século XX: um esquizofrênico ao mesmo tempo charmoso, ambicioso, imperscrutável, totalmente desprovido de moral e dado a arroubos de extrema violência.

No centro da história está a relação entre Ripley e Dickie Greenleaf, um rico herdeiro que se muda com a namorada Marge para uma pacata cidadezinha italiana. Ripley fica horrorizado com as malogradas incursões de Dickie na pintura e com a “inexplicável” associação dele com Marge, certo de que ali não há amor; ao mesmo tempo, se encanta com o estilo, a riqueza e a beleza física do novo amigo.

A fronteira que Highsmith estabelece entre, de um lado, a psicose e, de outro, a inveja social e o desejo sexual, implica que podemos interpretar o comportamento de Ripley como uma simples patologia ou uma complexa manifestação das ambições burguesas e do desejo homossexual reprimido.”

 
Andrew Pepper, 
1001 livros para ler antes de morrer (adaptado)
 

Capa da primeira edição de “O talentoso Ripley” nos EUA