Puxa, ler Robinson Crusoé foi tão cansativo, que sabem como eu estou me sentindo? Assim:
Mas calma lá, não vá jogando o seu Robinson Crusoé pela janela ainda.
A leitura me cansou por causa das minhas provas finais, que ocuparam todo meu tempo, e só permitiam que eu lesse umas 4 páginas por dia, quando dava.
Além disso, eu estava esperando um romance bem psicológico, cheio de angústias íntimas e tal, bem no estilo do filme Náufrago, do Tom Hanks.
Imaginem que vocês ficam quase 30 anos morando totalmente SOZINHOS. Das duas, uma: ou a pessoa enlouquece, ou cria algum amigo imaginário para compensar a solidão (o que, na verdade, também é um tipo de loucura).
Por isso que a sacada mais genial do filme do Tom Hanks é o personagem Wilson, interpretado com maestria por uma bola de vôlei. Se não fosse o coitado do Tom Hanks ter criado uma amizade com aquela bola, ele sem dúvida teria se matado de depressão (o que, aliás, ele cogitou fazer).
Mas o Crusoé não, ele mantém a sanidade todo o tempo, não desiste nunca, é firme como uma rocha. E depois que encontra o Sexta-Feira, o primeiro ser humano em VINTE E QUATRO anos, ele não surta, não cai no choro, não ataca, não se defende. O cara simplesmente sai conversando e catequizando o índio, como se tivesse feito isso a vida inteira.
E mais: quando Crusoé volta à Inglaterra natal, depois de TRINTA E CINCO anos de ausência, ele continua a vida numa boa, sem ter perdido o mínimo traquejo social. Improvável, não?
Por isso que, para ser bem aproveitado, é preciso ler Robinson Crusoé lembrando que é uma história de aventuras, de grandes feitos, sem nenhum compromisso com a psiqué dos personagens.
É a mesma diferença entre os romances de cavalaria e o Dom Quixote: um serve só para entreter atos de bravura e magia, e o outro mostra a crueza da realidade e a complexidade da mente humana.
Na nota biográfica sobre Daniel Dafoe, no final da edição da ed. Martin Claret, essa questão é esclarecida:
“Os romances de Defoe não são peças bem estruturadas, nem realizam profundas análises psicológicas ou sociais. O mais importante é a vivacidade que ele sabe emprestar à narrativa, dinâmica e cheia de ritmo, cem como a relação estreita e profunda que as suas imaginosas criações mantêm com a sociedade em que vivia”.
Moral da história: Robinson Crusoé serve mais para se divertir do que para pensar. Principalmente se você gosta de histórias de marinheiros e piratas…