Persuasão, de Jane Austen

Jane Austen é uma das escritoras mais populares da língua inglesa.

Jane Austen (1775 – 1817)

Jane Austen (1775 – 1817)

Uma popularidade que começou durante o machista século XIX, quando raramente se ouvia falar de mulheres escritoras, e muitas delas precisavam se esconder por trás de pseudônimos masculinos.

O fato de ser mulher traz aos romances de Jane Austen um olhar bastante original para a época, pode-se dizer até inédito. Todas as protagonistas dos seus romances são mulheres que expõem seus sonhos e inquietudes sobre a vida familiar, social e afetiva.

Até para leitoras dos dias de hoje, as histórias de amor de Jane Austen são fascinantes e magnéticas. Ainda que, do ponto de vista do feminismo moderno, elas tenham algo de desanimador também.

É só lembrar da protagonista austeniana mais famosa, Elizabeth Bennet (Orgulho e Preconceito, 1813).

Adoro esta adaptação de 2005 de "Orgulho e Preconceito". Keira Knightley (no meio) vive Elizabeth Bennet, em meio às suas quatro irmãs.

Adoro esta adaptação de 2005 de “Orgulho e Preconceito”. Keira Knightley (no meio) vive Elizabeth Bennet, em meio às suas quatro irmãs.

Elizabeth é considerada uma das primeiras heroínas femininas da literatura moderna ocidental. Esta moça charmosa e inteligente em níveis moderados, ao contrário das irmãs e amigas, não condiciona sua felicidade ao casamento. Defende que é melhor passar a vida solteira do quem ao lado da pesssoa errada. Um pensamento quase subversivo, se a gente lembrar que estamos no começo do século XIX numa Ingleterra às vésperas da era vitoriana (conhecida pelo conservadorismo dos costumes).

Mas isso não impede que o homem mais rico e bonito da região se apaixone, adivinha por quem?, por Elizabeth. E depois de uma série de indas e vindas deliciosas e uma porção de diálogos rebuscados e troca de cartas, ela acaba se casando. É assim em todas as obras de Jane Austen, a verdadeira felicidade sempre se alcança no enlace com um homem geralmente idealizado.

Colin Firth como o Mr. Darcy, numa famosa adaptação para TV feita pela britânica BBC.

Colin Firth como o Mr. Darcy, em famosa adaptação feita pela TV britânica BBC em 1995.

Mas não vou me prolongar nessas questões. Talvez seja demais esperar mais feminismo de obras escritas há tanto tempo e num contexto moral tão rigoroso.

Prefiro focar nas qualidades da literatura de Jane Austen, que não são poucas – de quem eu, apesar de tudo, confesso ser grande fã também!

Persuasão foi o romance que eu escolhi ler agora, depois de ter lido Orgulho e Preconceito (encantador, aconselho a todos que quiserem começar a ler Austen) e Emma (um pouco menos vibrante, indicado só para aqueles fãs mais alucinados).

Talvez por ser uma obra mais tardia, publicada um ano após a morte da escritora, Persuasão foi o livro menos pueril que eu já li dela até hoje.

A própria heroína, a discreta Anne Elliot, já não é mais uma mocinha.

Outra adaptação da BBC, com Sally Hawkins como Anne (2007).

Outra adaptação da BBC, com Sally Hawkins como Anne (2007).

Com quase trinta anos e ainda solteira, uma sentença de vida naquela época, Anne vive na melancolia de decisões antigas.

Quando Anne era de fato adolescente, apaixonou-se perdidamente, e foi correspondida em igual intensidade, pelo também jovem oficial da marinha Frederick Wentworth. Foi, porém, severamente aconselhada pela família nobre e decadente a não fazer uma união com um rapaz de origem tão inferior. Boa filha, ela acatou as censuras e mandou o moço passear.

Mas dez anos depois, muita água passou embaixo da sua ponte. E ela percebeu o tamanho da besteira que tinha feito ao dar ouvidos aos preconceitos de classe da família esnobe.

É nesse momento que Frederick volta à cidade, agora elevado a capitão e extremamente rico (ai, Jane, dava pra ter nos poupado disso), após uma bem sucedida campanha militar.

Obviamente, Frederick voltou amargurado e com jeitão de não ter engolido ainda a dispensa de Anne – e vai caber à moça, agora, se redimir para tentar recuperar seu amor, ou então perdê-lo para sempre.

“Emma” e as Patricinhas de Bervely Hills

Quem viveu os anos 90 certamente se lembra deste filme, um dos maiores sucessos de 1995: Clueless (ou As Patricinhas de Bervely Hills, aqui no Brasil).

A comparação pode parecer tosca. Mas a verdade é que uma “high school” americana é um dos ambientes mais adequados para transportar a vila de Highbury, de Emma, para os tempos atuais: um lugar onde reinam as fofocas e onde pessoas desocupadas e fúteis ocupam seu tempo em tentar alcançar os mais altos escalões de status da sociedade local.

Aqui, Emma se transforma em Cher (interpretada pela hoje sumida atriz Alicia Silverstone), uma moça rica e de bom coração, mas extremamente isolada no seu mundinho de shoppings e salões de beleza. Órfã de mãe e mimada por um pai sem autoridade, ela se acostumou a mandar e ser obedecida. Diverte-se em fazer compras, falar no celular (e que celular!) e em bancar o Cupido planejando casais.

Até que resolve propor a si mesma o maior dos desafios: transformar Tai, uma garota desajeitada – que no livro corresponde a Harriet Smith, a simplória filha bastarda de um nobre desconhecido – na garota mais popular da escola, para assim conquistar o esnobe Elton – que no livro tem o mesmo nome.

O resultado? Nem precisamos ver o filme ou ler o livro para adivinhar… os planos de Cher resultam num completo desastre, e ela aprende que é preciso ter uma boa dose de humildade na vida para saber respeitar os outros e para encontrar a própria felicidade.

Duzentos anos antes, lá estava a patricinha Emma tentando transformar Harriet (à dir.) numa garota popular: até que o mundo não mudou tanto assim

Os livros de Jane Austen foram muito populares na época em que foram publicados, mas nos dias de hoje Austen é ainda mais lida e idolatrada, principalmente nos países de língua inglesa.

Assim como Shakespeare, suas obras são continuamente exploradas e adaptadas para os dias atuais, seja em filminhos bobos como Dez coisas que eu odeio em você (adaptação de A megera domada) seja em marcos do cinema mundial como O Rei Leão (claramente inspirado em Hamlet).

Por isso, talvez a melhor benefício de Emma para o leitor de hoje, além dos diálogos deliciosamente irônicos, seja justamente a oportunidade de perceber como as coisas não mudaram tanto assim.

Emma: sinopse

Gwyneth Paltrow, aos 24 anos, em “Emma” (1996)

Emma Woodhouse, uma jovem bonita, inteligente e encantadora, está decidida a jamais se casar.

Ela já possui toda a fortuna e independência de que precisa e sente-se perfeitamente satisfeita com sua situação, o que não a impede de se divertir planejando casamentos entre as pessoas que a cercam.

Ao conhecer Harriet Smith, uma moça de status social mais baixo, Emma decide ajudá-la a encontrar um pretendente que seja um verdadeiro cavalheiro.

Porém, a jovem descobre que interferir demais na vida dos outros pode por em risco a própria felicidade…

Ao começar a escrever Emma, Jane Austen afirmou: “Vou criar uma heroína que ninguém, além de mim, vai gostar muito”. Ela não sabia o quanto estava errada – Emma Woodhouse tornou-se um dos personagens mais queridos da galeria de Austen, apesar de certamente ser a menos perfeita de suas protagonistas.

Julia Romeu – tradutora, jornalista e dramaturga

23º livro: Emma

Depois de terminar Histórias Extraordinárias e fazer uma pausa durante o feriado lendo Logicomix, eu estava na dúvida sobre qual seria nosso próximo livro.

Estava entre três opções: O recurso, de John Grisham – que pode não ser um clássico universal, mas sem dúvida é um clássico da “literatura de advogados”, de que gosto muito; ou Dália Negra, de James Ellroy, esse sim um clássico contemporâneo, que conta a terrível e verídica história de uma jovem aspirante a atriz encontrada brutalmente assassinada na Los Angeles dos anos 1940.

Mas aí eu lembrei que estou em época de provas (o que significa, precisamente, 15 exames para concluir até o fim de novembro), e por isso não podia me dar ao luxo de escolher um livro denso, complicado ou violento. Preciso de uma coisa mais light.

Daí porque eu decidi ler Emma, um clássico da escritora inglesa Jane Austen. Algum tempo atrás, li seu romance mais famoso, Orgulho e Preconceito, e me surpreendi como uma história cheia de diálogos longos, formalismos e raciocínios complicados podia ser tão encantadora e divertida!

Só espero que Emma também seja tão legal. É ler para ver!