Esperando Godot

Oi, meus queridos. Concluí minha leitura da dificílima peça Esperando Godot.

A obra, um clássico do teatro no século XX, foi indicada por um professor de redação na faculdade. Ele queria usá-la como subsídio para nos ensinar a escrever sobre temas metafísicos como a existência e a consciência.

Uma piração completa.

Para concluir nossos trabalhos do bimestre sobre este assunto, o professor nos encarregou de escrever um ensaio no qual, inspirados na leitura, nós tratássemos das relações entre sujeito, linguagem e consciência.

Este é o texto que vou entregar.

 

Eternidade

E a vida, que é? Chama?

Mas qual é o carvão da vida? Substância inflamável invisível. Vulnerável. Inviável.

A vida não é coisa. É fluxo. Correnteza. Passa, sem ser. Deixa rastros, lava feridas, converte rocha em areia fina. Invade baías, evanesce em nuvens, graniza na cabeça de inocentes. Viver é metamorfose.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.

Se viver não é, se viver é estar… o que resta? O que fica?

Fica a linguagem. Fica Camões e seu mundo a não mudar-se mais como soía. Língua. Metamorfose ambulante de Raul, única certeza da eternidade. O início, o fim e o meio.

Fica a palavra. Fica, principalmente, a Palavra.

Palavras que movem montanhas e abrem os mares. Palavras em livros vermelhos. Palavras que embalam cadáveres. Vão-se os reis, ficam as palavras. Roseta.

Linguagem. A única garantia da nossa passagem pela vida.

Quando não há mais nada, só resta o silêncio…

… e a espera.

 

 

ESTRAGON:

O que quer que eu diga?

VLADMIR:

Diga: estou contente.

ESTRAGON:

Estou contente.

VLADMIR:

Eu também.

ESTRAGON:

Eu também.

VLADMIR:

Estamos contentes.

ESTRAGON:

Estamos contentes. (Silêncio) O que vamos fazer agora que estamos contentes?

VLADMIR:

Esperar Godot.

ESTRAGON:

É mesmo.

Silêncio.

Samuel Beckett, Esperando Godot, pág . 117 (Ed. Cosacnaify)

39º livro: Esperando Godot, de Samuel Beckett

Imagine um mundo em que tudo o que existia não existe mais.

Família, sociedade, instituições, valores, medos: tudo se foi.

Só o que sobrou foi você e a sua consciência. Até o seu corpo está se enfraquecendo, quase sumindo…

Sua única ferramenta: a palavra.

O que você faria??

.

.

.

É esta situação esdrúxula que o dramaturgo irlandês Samuel Beckett imaginou na peça Esperando Godot: o diálogo improvável de dois vagabundos, Vladimir e Estragon, num mundo onde já não há mais nada, onde só o que resta é a necessidade de falar.

Fracos, quase perdendo o contato com as próprias consciências, os personagens se apegam a uma única esperança: a chegada iminente de um tal de Godot.

O que esperar de Godot, nem eles mesmos sabem.

Esta não é a primeira peça de teatro que leio aqui no blog (já passamos pelas tragédias gregas Édipo Rei e Antígona), mas é a primeira de estilo “absurdo” e certamente será das mais desafiadoras que lerei na vida.

Mas aceito o desafio!