Oi, meus queridos. Concluí minha leitura da dificílima peça Esperando Godot.
A obra, um clássico do teatro no século XX, foi indicada por um professor de redação na faculdade. Ele queria usá-la como subsídio para nos ensinar a escrever sobre temas metafísicos como a existência e a consciência.
Uma piração completa.
Para concluir nossos trabalhos do bimestre sobre este assunto, o professor nos encarregou de escrever um ensaio no qual, inspirados na leitura, nós tratássemos das relações entre sujeito, linguagem e consciência.
Este é o texto que vou entregar.
Eternidade
E a vida, que é? Chama?
Mas qual é o carvão da vida? Substância inflamável invisível. Vulnerável. Inviável.
A vida não é coisa. É fluxo. Correnteza. Passa, sem ser. Deixa rastros, lava feridas, converte rocha em areia fina. Invade baías, evanesce em nuvens, graniza na cabeça de inocentes. Viver é metamorfose.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.
Se viver não é, se viver é estar… o que resta? O que fica?
Fica a linguagem. Fica Camões e seu mundo a não mudar-se mais como soía. Língua. Metamorfose ambulante de Raul, única certeza da eternidade. O início, o fim e o meio.
Fica a palavra. Fica, principalmente, a Palavra.
Palavras que movem montanhas e abrem os mares. Palavras em livros vermelhos. Palavras que embalam cadáveres. Vão-se os reis, ficam as palavras. Roseta.
Linguagem. A única garantia da nossa passagem pela vida.