Em pouco mais de uma semana de leitura, estou apenas na metade de Crime e Castigo.
Como qualquer obra escrita há mais de cem anos, e ainda num país tão distante como a Rússia, é um pouco mais difícil de ler. Eu mesma falei no último post que já tinha tentado começar uma vez, para largar logo nas primeiras páginas…
Mas dessa vez, a leitura está fluindo! Descobri que, apesar da linguagem um pouco complicada (não digo difícil, apenas diferente do que estamos acostumados), Crime e Castigo é uma novela empolgante, cheia de personagens fascinantes, idas e vindas e tramas paralelas.
Tudo, evidentemente, gira em torno do protagonista Rodion Raskólnikov e do tal crime que ele comete e pelo qual é penalizado, como indica o próprio título.
Raskólnikov é um rapaz como todos nós conhecemos ou já ouvimos falar. Vinte e poucos anos, inteligente e superprotegido pela mãe viúva e irmã devotada, muda-se para a Capital para estudar e ser alguém. Carrega nas costas toda a responsabilidade de crescer na vida e tirar a família da pobreza…
No começo, as coisas parecem que vão bem. Ele mergulha nos estudos com afinco e ainda dá umas aulas particulares para ganhar um dinheiro extra.
Mas não demora para que as dificuldades da vida de estudante derrubem o entusiasmo de Raskolnikóv. A São Petersburgo descrita por Dostoiévski é uma cidade sombria, repleta de vielas e tabernas pestilentas onde perambulam bêbados, adolescentes prostituídas e trabalhadores extenuados. Rapidamente o frágil e introspectivo Raskólnikov mergulha neste ambiente de miséria e pessimismo, sem forças para emergir.
Larga os estudos, as aulas particulares. Os poucos objetos de valor que ainda possui, se vê obrigado a penhorar com uma velha repugnante, que empresta dinheiro tomando objetos pessoais como garantia.
É nesse ponto da história que começa o livro.
Raskólnikov, já tão empobrecido que anda por aí com aparência de mendigo, está dominado por espécie de transe. A leitura me deu um pouco daquela sensação entre o sono e a vigília, quando não temos certeza se as coisas que estão acontecendo são verdadeiras ou imaginadas. Raskólnikov parece que está preso nessa condição.
É quando descobrimos que ele está atormentado por uma ideia fixa: assassinar a velha agiota, que tanto mal faz às pessoas necessitadas como ele, e usar o dinheiro que ela guarda em casa para alguma finalidade mais nobre…
É bom que fique bem claro, Raskólnikov não é nenhum psicopata, nem um desses esquizofrênicos que matam porque ouvem ordens imaginadas. Pelo menos não estou tendo esta impressão.
Nem Crime e Castigo, ao contrário do que o título sugere, é um romance que segue a lógica da moral cristã, apresentando o crime seguido de arrependimento, penitência e redenção.
Pela minha leitura até agora, tudo parece muito mais complexo do que isso. Raskólnikov é um assassino, é verdade, mas é também uma pessoa comum, com fraquezas e virtudes, que compreende as leis e procura segui-las, na medida do possível. E o mais perturbador é perceber o quanto às vezes ele é parecido com nós mesmos…
As imagens que ilustram esse post foram retiradas da animação polonesa “Zbrodnia i Kara” (2000), livremente inspirada em Crime e Castigo. Você pode vê-la por completo clicando aqui. Créditos de Piotr Dumala.