Agora, sobre o Sófocles

Longe de mim querer fazer deste blog algum tipo de wikipedia, onde a gente acha informações genéricas e duvidosas sobre tudo. Este bloguinho eu criei para colocar as minhas impressões das coisas que vou lendo, como uma maneira de compartilhar com as pessoas o prazer que a leitura me proporciona.

Hoje, vou falar sobre o Sófocles, o autor das duas tragédias que eu li durante esta semana, “Édipo Rei” e “Antígona”. É que eu li algumas notinhas biográficas dele, e o cara foi simplesmente sensacional!

Olha ele ai

Já começa pelo tempo que ele viveu: absurdos noventa anos, numa época em que se morria de velhice aos quarenta.

Este quase um século de existência ainda por cima foi vivido durante a mais clássicas de todas as épocas históricas, o século v a.C. Para você que não se lembra mais das aulas de História: a história da Grécia antiga é dividida em três períodos: arcaico, clássico e helenístico.

No período arcaico, ocorreu a expansão e desenvolvimento da civilização grega, a formação das pólis e da identidade nacional. Foi um pré-jogo, por assim dizer. Daí no clássico, tudo estava nas melhores condições possíveis: a economia estava aquecida, os escravos trabalhavam como nunca. Os gregos estavam felizes e bem alimentados, e gastavam seu tempo livre inventando passatempos, tipo a filosofia, a matemática, a democracia e tudo mais.

Estava tudo tão bom que eles conseguiram estragar tudo. Atenienses e espartanos começam a brigar para ver quem é mais bambambã. Os atenienses acham os espartanos uns broncos selvagens e os espartanos acham que os atenienses são uns afeminados metidas a intelectuais. Chamaram suas cidades amigas e formaram as duas alianças mais legais de todos os tempos: a Liga de Delfos e a Liga do Peloponeso.

A guerra é longa e inútil. A Grécia se enfraquece tanto que é invadida pelos macedônios. Aí começa o último período, o helenístico, que marca a decadência das cidades-estado gregas (depois, a Grécia vira corrimão de quartel: passa na mão de macedônios, romanos, otomanos, turcos…).

paulo autran e cacilda becker

Creonte: "Será que acabou a aula de história?" Antígona: "Para você, sim."

Sófocles era de Colono, um subúrbio de Atenas. Por isto, viveu intensamente a Era de Ouro da democracia ateniense, e também o seu desmoronamento. Chegou a ocupar cargos políticos, era amigão do estadista Péricles. Mas ficou ilustre mesmo como dramaturgo.

Aos 28 anos, venceu o veterano Ésquilo num concurso de tragédias. Durante a vida, venceu 24 destes concursos. Das 123 peças teatrais que escreveu, 76 receberam prêmios. Apenas sete, porém, sobreviveram completas até os dias atuais: Ájax, Édipo Rei, Antígona, Electra, Filoctetes, As traquínias e Édipo em Colono.

Junto com Ésquilo (“Prometeu Acorrentado”, “Oréstia”) e Eurípedes (“Medéia”, “As bacantes”), Sófocles é considerado um dos maiores autores trágicos de todos os tempos.

Ele é ou não é “o cara”?

3º livro: Édipo Rei

Geralmente a primeira coisa que faço ao iniciar um livro novo é colocar uma sinopse sobre ele.

Mas neste primeiro post sobre Édipo Rei, estou com dúvidas se devo fazer isto.

As sinopses tradicionais que eu encontrei por aí são muito spoilers. Elas partem do princípio de que todos já conhecem a história de Édipo, o que não é verdade. Na minha opinião, existem duas formas de ler Édipo Rei:

1) Conhecendo toda a história de antemão, e saboreando a maneira como o intrincado enredo se desenvolve, a construção da tragédia e tudo mais;

2) Não sabendo nada da história, e  vibrando a cada revelação, a cada vez que os personagens descobrem os terríveis segredos que recheiam a história…

É claro que ler sem um chato para entregar o final antes é muito melhor!

Devo confessar: eu já li a história da Édipo, esta será minha segunda vez. E, por sorte, da primeira vez eu li sem saber ABSOLUTAMENTE nada do enredo, assim como os espectadores gregos nada sabiam da peça quando a assistiram no teatro, dois mil e quinhentos anos atrás. Nunca mais me esqueci do quanto foi bacana!

Não acho justo privar os leitores dessa emoção.

Mais do que uma tragédia que trata de temas universais dos seres humanos, Édipo Rei é quase um romance policial: um assassinato aconteceu, e quanto mais o herói vai tentando solucioná-lo, mais segredos vão sendo revelados, até que uma terrível e inescapável verdade vem à tona.

Quando eu criei este blog, meu objetivo era entender por que os livros clássicos merecem ser lidos.

Sobre a Édipo Rei, eu já sei a resposta: este livro é uma rara oportunidade de refletir sobre os mistérios do céu e da terra e ao mesmo tempo saborear um enredo muito bem articulado, surpreendente, emocionante.

"A Trilogia Tebana", da Ed. Jorge Zahar: traduções integrais e "Édipo Rei", "Édipo em Colono" e "Antígona"

Para quem tem dificuldade, ou simplesmente não gosta, de ler textos teatrais, deixo como dica a edição romanceada de Didier Lamaison. Provavelmente você vai encontrá-la na estante “Infanto-juvenil” da livraria, mas não se engane: apesar de simplificado, o texto não perde nada em profundidade.

Adaptação de "Édipo Rei", da Ed. Moderna: para quem prefere romances

É uma boa pedida para quem quer ler uma grande história sem se perder nos rebuscamentos da linguagem clássica!