Fim do recreio

Por fim terminei a leitura dos Homens que não amavam as mulheres!

Recomendo, é um baita livro! Bom por ser daqueles que têm um mistério central que vai se resolvendo aos poucos, em meio a muitas reviravoltas imprevisíveis – e por isso a gente não consegue parar de ler.

Outro mérito da história são os heróis carismáticos e ligeiramente anti-éticos (bom, para falar a verdade, a protagonista Lisbeth Salander mereceria uns longos anos de cadeia se ela fosse besta o suficiente de se deixar pegar pela polícia).

Não é à toa que o livro é fenômeno de vendas e tem uma legião de fãs pelo mundo. E vocês lembram alguns dias atrás quando eu disse que Hollywood tinha chegado atrasado? Pois é, apesar do atraso, parece que a versão americana do livro vai sair no fim deste ano – e cheia de pesos-pesados para ser um sucesso, como o diretor David Fincher (Clube da Luta, Rede Social) e Daniel Craig (o melhor 007 desde o Sean Connery) no papel principal.

Rooney Mara foi a atriz escolhida para viver a Lisbeth Salander de Fincher

Mas agora, acabou o recreio.

Está na hora de voltar a falar de clássicos, que é o objetivo desse blog.

Estou bastante ansiosa, porque o próximo livro da lista será Dom Quixote de la Mancha, de Cervantes… sim, o livro dos livros, o favorito dos intelectuais, dos loucos também, o martírio dos espanhóis em idade escolar, a estatuazinha mais trazida por que viaja para a Espanha!

De que lado da humanidade eu vou ficar? Do lado que acha que esse é o melhor romance de todos os tempos, ou do lado que pensa que é o maior sonífero?

Estou ansiosa. Mas, para falar a verdade, criei esse blog pensando em momentos como esse mesmo!

Mas resolvi me precaver, comprando uma edição que divide o livro em dois volumes. São dois volumes gordos, porém com uma letra maiorzinha e consideravelmente mais leves do que o calhamaço completo. Aí, se eu não gostar, eu lerei um dos volumes só… e saberei que não pertenço à casta dos gênios como Dostoievski, que um dia teceu ao Dom Quixote o seguinte elogio:

 “Se o mundo acabasse e Deus me perguntasse: ‘Então, o que você aprendeu sobre a vida?’, eu poderia simplesmente mostrar Dom Quixote e dizer: ‘Esta é a minha conclusão sobre a vida. E você? O que me diz?”

Dom Quixote: uma ideia ainda borrada que eu finalmente vou conhecer mais de perto...

Mais boas notícias!

Caros leitores desse blog: fiquem sabendo que nós somos pessoas de vanguarda!

É isso mesmo que vocês ouviram, ou melhor, leram. Hoje eu estava à toa, pensando na morte da bezerra, quando fico sabendo que a revista Veja reservou uma reportagem de capa para a nossa categoria, a dos jovens que estão descobrindo a literatura clássica.

E o melhor de tudo: a conclusão da reportagem é o que todos nós já sabíamos, que para gostar dos livrões clássicos primeiro é preciso ter hábito de leitura, e para adquirir hábito de leitura não existe nada melhor do que Harry Potter, O Senhor dos Anéis, Crepúsculo, Comer Rezar e Amar, e todas essas obras que intelectuais arrogantes gostam de menosprezar.

A grande verdade é que os grandes best-sellers são extremamente eficazes para iniciar um adolescente que acha que o mundo se resume a msn e facebook nos prazeres da leitura.

Escaneei o quadro que mostra a evolução dos leitores de Harry Potter porque, bem, eu já li muito Harry Potter nessa vida.

Infelizmente não encontrei a reportagem completa na internet para colocar um link. Mas certamente alguém vai colocar a matéria na internet ainda esta semana, então eu coloco aqui!

Relatório de Os homens que não amavam as mulheres: faltam umas vinte páginas para acabar. Caramba, eu devorei 500 páginas em menos de uma semana! É espantoso o poder desses thrillers policiais.

Aliás, chamar o livro de Stieg Larsson de “policial” é muito inadequado, porque a protagonista, a hacker anti-social e gótica Lisbeth Salander, é completamente avessa a recorrer à polícia. Ela desconfia – na verdade, abomina – toda e qualquer forma de autoridade. Todos os mistérios da trama são solucionados sem ajuda de qualquer policial ou detetive e, até onde eu li, os culpados nem mesmo são denunciados para as autoridades (mas eu ainda não acabei…).

Fazendo um balanço, eu diria que Os homens que não amavam as mulheres é um livro bom para quem gosta de histórias com trama inteligente e ritmo alucinante, cheias de sexo e violência. Tudo misturado com tramas de conspiração envolvendo impérios financeiros globais.

Violência contra a mulher

Já pelo título, “Os homens que não amavam as mulheres”, fica claro: no livro que estou lendo, as mulheres sofrem. E na mão dos homens.

Ao longo da história, vão-se revelando muitas histórias de violência contra a mulher, seja apanhando sistematicamente dos seus maridos ao longo de toda vida, seja sofrendo estupro de alguém hierarquicamente dominante, seja sendo submetida a rituais religiosos extremistas.

A Suécia é um dos países mais desenvolvidos do mundo (IDH de 0,88 em 2010, 9º lugar no ranking mundial), mas tem estatísticas nada louváveis no que se refere à violência contra a mulher:18% já foram ameaçadas por um homem; 46% já sofreram violência de um homem; 92% das que sofrem violência sexual não prestam queixa na polícia.

Esse assunto me lembrou uma entrevista MUITO interessante que a revista Istoé fez algumas semanas atrás com o ex-marido e agressor da Maria da Penha, a farmacêutica que deu nome à famosa lei que protege as mulheres contra a violência doméstica. Era a primeira vez que ele dá a sua versão dos fatos, 28 anos após ter tentado assassinar a mulher.

A entrevista é interessante porque mostra o que passa na mente nefasta de um agressor. Confiram.

“A Maria da Penha me transformou num monstro”

Quem é, como vive e o que pensa o homem condenado por tentar matar a brasileira que deu nome à lei que combate a violência contra a mulher no País. Quase 28 anos depois do crime, ele fala pela primeira vez
 

O economista colombiano Marco Antonio Heredia Viveros chega sorrateiro. Pele bronzeada. Sorriso discreto. Testa alongada pela calvície. Puxa uma pequena mala preta de rodinhas apinhada de papéis. Na outra mão, traz uma pasta surrada estilo 007. Caminha de maneira altiva. Sem olhar para o chão. De camisa azul-clara – mangas compridas, poída, quase colada ao corpo – e calça bege, parece em forma. Declara ter 57 anos, apesar de documentos antigos apontarem sete anos a mais. Com sotaque carregado e depois de me dar um forte e inesperado abraço, Heredia pergunta: “Fez uma boa viagem?”. Durante as nove horas de entrevistas – somadas a uma sessão de fotos e a uma extensa troca de e-mails – ele tenta se mostrar cortês e inofensivo. Pensa em cada frase. Quando foge do script e escorrega nas palavras, respira demoradamente e sorri. Me chama de “meu anjo” e “querida amiga”. “Não sou o que as pessoas pensam”, afirma. “A Maria da Penha me transformou num monstro. Não tentei matá-la. O único erro que cometi foi ter sido infiel. Por isso, ela armou toda essa farsa. Essa mulher é um demônio.”

Continue a leitura!

10º livro: Os homens que não amavam as mulheres

“Os homens que não amavam as mulheres”
Stieg Larsson
Ano: 2005
 

Escolhi para comemorar o 10º livro o primeiro título de um fenômeno da literatura contemporânea, a trilogia Millenium. O autor um jornalista sueco chamado Stieg Larsson, que teve o dom de escrever um thriller de sucesso mundial  e morrer antes de aproveitar o sucesso. =/

Acabei de começar a leitura, então fiquem com a crítica que a minha xará Isabela Boscov fez do filme inspirado na obra:

Parece até ficção

A série policial Millennium, criada pelo sueco Stieg Larsson, é um legítimo evento cultural. Mas seu autor morreu antes de vê-lo acontecer

Isabela Boscov

Michael Nyqvist, em cena do filme, no papel do jornalista engajado Blomkvist, e o autor Larsson, que dedicou a carreira a patrulhar a ultradireita: expor o que os outros não querem ver é dever do ofício

Stieg Larsson não era sujeito de fazer nada pela metade. Quando o jornalista sueco decidiu virar romancista, primeiramen-te elaborou sinopses detalhadas para cada um dos dez livros de uma série policial – todos protagonizados pelo jornalista Mikael Blomkvist e pela investigadora particular Lisbeth Salander. Então escreveu até o fim os dois volumes iniciais. Só aí pensou em publicá-los: Larsson escrevia depois dos longos expedientes na redação da Expo, a revista que fundou e que mal conseguia sustentar, e de início não estava seguro de que a obra teria pernas para ir longe.

Mas, à medida que a série foi tomando forma, constatou que ela poderia ser a porta para uma vida diferente. Estava certo. Assim que o primeiro livro, Os Homens que Não Amavam as Mulheres, foi lançado na Suécia, um pequeno culto começou a se formar em torno dele – e em particular em torno da antissocial, tatuada, lacônica, magérrima, perturbada e ocasionalmente violenta Lisbeth Salander, uma moça de 24 anos e inteligência brilhante, mas que a maioria das pessoas julga ser retardada, tal a carapaça com que ela se protege.

Larsson, porém, não conheceu a popularidade de sua personagem. Em 9 de novembro de 2004, antes que o primeiro volume tivesse chegado às livrarias, o autor viu que o elevador do prédio de Estocolmo onde funcionava a Expo estava quebrado. Pegou as escadas – e, na subida, sofreu um infarto. Morreu aos 50 anos, morando de aluguel e quase sem dinheiro. Havia acabado de entregar as provas do terceiro volume à editora e ia pela metade do quarto episódio.

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