6º livro: A Vida de Lazarilho de Tormes

Título original: La vida de Lazarillo de Tormes y de sus fortunas e adversidades

Autoria desconhecida

Primeira edição: 1554, Espanha

Provavelmente nunca se saberá quem escreveu esta obra. Por um longo tempo acreditou-se que foi um nobre, Diego Hurtado de Mendoza. Recentemente, sugeriu-se que foi Alfonso Valdés, um funcionário imperial muito culto com tendências erasmianas.

Não é possível acreditar que a história tenha sido escrita pelo próprio participante (obs: a história é contada em primeira pessoa). Ela envolve a vida do filho de uma mulher que acabou vivendo com um escravo negro – o filho se torna guia de um cego, criado de vários patrões e, finalmente, o pregoeiro de Toledo graças à influência de um vigário que deve ter sido amante de sua mãe.

Porém este breve livro se faz passar por uma carta em que Lázaro (o protagonista) explica a “situação” que despertou a atenção de homem ou mulher anônimo, a quem o texto é endereçado.

Tudo o que o autor escreveu já era material do folclore ou do repertório de contos anticlericais. Mas a novidade radical foi o tom desinibido e a habilidade com que ele transformou toda a coletânia de contos nas experiências de uma só vida.

A obra foi o primórdio da história picaresca, mas foi também muito mais: o romance moderno como expressão pessoal do mundo.

Adaptado de José-Carlos Mainer, professor de literatura espanhola da Universidad de Saragoza.

A Celestina: sinopse

Com exceção de “Édipo Rei” e “Antígona”, que eu acrescentei por minha conta, até agora só estamos falando de livros pouco conhecidos no Brasil… Isto se explica porque, como vocês sabem, estou usando uma listagem estrangeira, o livro “1001 livros para ler antes de morrer”.

Embora (até que em fim!) tenha edição em português (e bem baratinha!), “A Celestina” também é uma ilustre desconhecida por aqui.

Finalmente, um livro bom e barato!

Como convencer o leitor de que este livro pode valer a pena?…

Vou tentar diferentes caminhos:

1) Para quem fez vestibular ou está estudando para um: você se lembra do “Auto da barca do inferno”? E da “Farsa de Inês Pereira”? Daquela longa lista de livros que obrigam a gente a ler, estes são os melhorzinhos, né? É porque além de curtos e engraçadinhos, tratam assuntos sérios da sociedade com ironia, acidez…

Bom, “A Celestina” vai na mesma toada. Também é teatro, também é comédia e adora ridicularizar as figuras poderosas da Europa pós-medieval, tipo os nobres e os padres. E está recheada de piadas picantes…

2) Para quem gostou de Batman, o Cavaleiro das Trevas: lembram de como o Coringa do Heath Ledger roubou a cena? Teve muita gente que afirmou que deveriam trocar o nome para “Coringa, o filme”.

Pois é, não é primeira vez que isso acontece! O nome original de “A Celestina” era “A comédia de Calisto e Malibea”, os dois pombinhos da ilustração acima. Mas o público pegou simpatia mesmo foi pela Celestina, a vilã – uma velha cafetina, puta, má, imoral, hilária!

3) Para quem assiste CQC: sabem o que se fala deste programa da Band, que é um “humor inteligente”, que tira sarro de coisas sérias, que estimula a pensar? Foi o que “A Celestina” representou na Espanha quando foi lançada: uma obra que transgredia o teatro da Igreja, que era severo, moralista e bom-comportado. E de quebra, ainda divertia para caramba!

4) Para quem é pão duro e preguiçoso: o livro custa 15 reais e tem em qualquer banca, pô…

Bom, acho que fui bem convincente, né!

Eu ia fazer uma sinopse ainda, mas estou com preguiça e o post já está grandinho. Fica para o próximo!

Os próximos passos

Usando uma das frases birutas do Pedro Bial: Vamos pegar nossa “Nave-BBB” e sobrevoar muitos séculos na história, para pousar na Espanha na Idade Média (viu, para você que duvidava que Big Brother também é cultura)!

Nosso bloguinho lindo chegou a um tipo de literatura de que eu sempre ouvi falar, mas nunca li uma linha sequer: os romances de cavalaria.

São dois:

Tirante, o Branco:  romance épico de Joanot Martorell (1414-1468), cavaleiro e escritor de Valência.

Primeiro o Tirante, olha que estiloso

 

As Aventuras de Amadis de Gaula: outra longa novela, atribuída a Garci Rodriguez de Montalvo.

E depois o Amadis, mais retrô

Não vou falar destas obras por enquanto. É que estou esperando eles chegarem – resolvi encomendar duas versões resumidas em espanhol. Não me olhem com esta cara, vocês fariam o mesmo quando vissem que as edições importadas saem por 30 reais e as nacionais e com texto integral saem por mais de cem (e ainda por cima têm umas novecentas páginas cada uma!).

Para quem ficou curioso, deixei o link dos livros da Wikipédia!

Agora, partindo para os próximos livros da lista, veremos duas obras espanholas mais modernas. A primeira será “A Celestina”, um romance que introduz o estilo conhecido como “pícaro”.

Na literatura, o estilo pícaro costuma ser considerado um dos primeiros da modernidade.

Este gênero se desenvolveu na Espanha no século XVI. Vale lembrar que nesta época a Espanha superou Portugal como maior e mais poderoso império no Mundo.

Porém, mesmo com tanto ouro vindo de atacado das Américas, na Espanha nunca houve tanta miséria. A desigualdade social era extrema: de um lado, os fidalgos e clérigos viviam na mais absoluta opulência e, de outro, o povo morria e matava por causa da fome.

Nesta época surgiu uma nova forma de arte popular chamada picaresca, que quer dizer maladragem, marginalidade.

Estas histórias eram anônimas e protagonizadas por personagens nenhum caráter. Apesar de serem bem-humoradas, elas tinham tinha boas doses de um realismo bem cruel…

No próximo post, vamos começar pra valer com “A Celestina”. E também vai ter template novo!

Já antecipo que tem filme!