Então você não gosta de Eça de Queiroz?

Ficou traumatizado com A cidade e as serras ao estudar para o vestibular?

Não gosta do português de Portugal?

Acha que esses romances do século XIX são muito chatos e melosos?

Pois eu sugiro um método muito fácil e saboroso para começar a apreciar este grande romancista do nosso idioma amado, idolatrado, salve salve.

Comece por um livrinho muito simpático e curtinho que lemos por aqui lá em 2011, Alves e Cia (clique aqui para ver o post que escrevi na época).  É baratinho e fácil de encontrar.

alves e cia

Depois de ler este hilário e ao mesmo tempo trágico conto sobre um homem que se vê traído pela devotada esposa, acho que você vai ter mais simpatia e familiaridade com a prosa rebuscada de Eça de Queiroz, e se sentir mais à vontade de procurar os romances mais densos, como Os Maias.

E, mesmo se isso não adiantar nada, pelo menos você vai ter lido uma pequena grande pérola da literatura portuguesa. Pelo menos, na minha opinião!

 

 

44º livro: Os Maias

maias

Na noite do último domingo, enquanto eu me revirava na cama tentando vencer uma tosse insistente que não me deixava dormir, comecei a ler um romance que ficava guardado na prateleira mais alta da biblioteca da minha mãe, a que guarda os clássicos de capa dura da coleção do Círculo do Livro.

Por que escolhi aquele livro, não sei; acho que desde pequena eu já gostava daquela capa azul com o título em caligrafia elegante.

Resultou que a minha tosse era na verdade um princípio de pneumonia, que agora tenho que combater com uma infantaria de antibióticos, xaropes, anti alérgicos e homeopatias. 

Mas da noite maldormida e malrespirada resultou também um grande achado, um prazer literário sem limites. 

Agora, mal me importo mais com o chiado no meu peito e a tosse irritativa: só quero saber mais sobre a Lisboa do século XIX e a saga da orgulhosa família da Maia…

 

O que é bom dura pouco…

 Alves e Cia é o tipo do livro que deixa a gente triste quando termina de ler. Mas é tão curtinho, e principalmente, tão bem escrito, que não dá para ler devagar.
 Na contracapa da edição que eu li, da editora LPM, estava escrito que o final era “verdadeiramente surpreendente”. Fiquei me preparando para este final, já prevendo os desfechos mais rocambolescos… mesmo assim, me surpreendi.

Eça de Queiroz, todo bonitão

Mas calma, claro que não vou revelar o final. Mas vou dar uma dica para quem ficou interessado: esta história fica mais interessante se comparada com o enredo de Dom Casmurro, de Machado de Assis.

De certa forma, são obras parecidas: são ambientadas na segunda metade do século XIX; os protagonistas são homens de boa posição social, bem sucedidos; o tema central é o adultério das suas aparentemente exemplares esposas.

No entanto, o Godofredo Alves e o Dom Casmurro reagem ao mesmo problema de maneiras bem diferentes…

Machado de Assis, além de escritor, era conhecido por ser um ensaísta e crítico literário muito mordaz. A crítica que ele fez a Primo Basílio, uma das obras-primas do Eça de Queiroz, ficou tão famosa que eu até decorei alguns trechos, de tanto que os professores de literatura a usavam nas aulas preparatórias para o vestibular.

Entre outras coisas, Machado acusa Eça de criar personagens artificiais, destituídos de conflitos internos. A Luísa, de Primo Basílio, por exemplo: se não fosse a empregada a chantageá-la, ela nunca teria se arrependido ou nem sequer refletido sobre o seu adultério com o Basílio.

Para quem ficou curioso, veja o ensaio aqui.

É pena que Alves e Cia só foi publicado em 1925, muitos anos da morte de Eça de Queiroz e Machado de Assis. Teria sido ver a reação do romancista brasileiro diante do anti-Dom Casmurro criado pelo Eça de Queiroz.

Alves e Cia, sinopse

Pobrezinho do Godofredo.

O sócio-fundador da firma Alves e Cia é um homem de quase quarenta anos que carrega apenas uma grande frustração na vida:  o ridículo nome Godofredo, herança da paixão da mãe pelos folhetins românticos.

Mas de certa forma, Godofredo Alves reconhece em si mesmo algo do fascínio pelos romances e aventuras que povoavam a imaginação da sua falecida mãe. Tanto é que se diverte em acompanhar de longe as peripécias sexuais do sócio, o Machado – aventuras que ele, homem sério e dedicado, jamais se atreveria a protagonizar.

Num belo dia, porém, o mundo do Godofredo desaba. Chegando mais cedo em casa, para fazer uma surpresa de aniversário de casamento, encontra Machado nos braços da sua mulher, Ludovina.

É então que começa o pesadelo pessoal de Godofredo Alves, narrado magistralmente por Eça de Queiroz.

“… Godofredo sentiu no fundo a garganta sufocada pelo seu ridículo… Sentiu-se pertencendo a essa tribo grotesca dos maridos traídos, que não podiam entrar em casa sem que, de dentro, escapasse um amante.”

O calvário de Godofredo, na tentativa de salvar a sua honra, passa por uma sucessão de personagens caricatos que transformam Alves e Cia numa obra-prima do sarcasmo: um sogro aproveitador, um melhor amigo insensível, um segundo melhor amigo cafajeste.

Até que Alves tem a grande ideia: desafiar Machado a um duelo com apenas uma pistola carregada, que seria sorteada ao acaso.

Esta e outras estupidezes que povoam a cabeça do pobre Godofredo Alves são os ingredientes principais de uma perfeita alegoria da sociedade burguesa em toda a sua imoralidade e hipocrisia.

Marco Nanini e Alexandre Borges em "Amor e cia"

No Brasil, o livro foi adaptado para o cinema em 1999, com o nome de Amor e Cia. Ambientada em São João del Rey no final do século XIX, traz Marco Nanini na pele do ingênuo Godofredo, Alexandre Borges como o conquistador Machado e Patrícia Pillar como Ludovina, a esposa adúltera.

Bonus Track!

Já fiquei meio cansada de seguir a ordem de “1001 livros para ler antes de morrer”…

O próximo livro será: “Alves e Cia”, de Eça de Queiroz. Não deixa de ser um momento histórico pro blog, porque este é nosso primeiro livro que foi originalmente escrito em língua portuguesa.

7º livro: “Alves e Cia”

Eça de Queiroz, 1925 (póstumo)

Tudo estava bem na vida do Alves.

Até que um dia ele chegou em casa e teve a terrível visão: sua mulher no sofá amarelo, em postura inconveniente, trocando afagos com um outro homem.

Negócios, tranquilidade, o doce lar, tudo veio abaixo, como um pesadelo. Desesperado, Alves vê sua vida ruir e, indignado, anseia por vingança; afinal, perde-se a mulher, mas não se perde a honra.

Neste enredo instigante, Eça de Queiroz faz desta novela uma obra-prima de ironia e humor. O desconforto de Alves, sua ansiedade por lavar a honra acabam por levar a um final verdadeiramente surpreendente. 

Afinal, o que os vizinhos vão pensar…